3.11.04

In God We Vote



São 2h08 AM e ainda não se sabe quem ganhou a eleições Norte-Americanas. E pelo que ouço da boca dos americanófilos convidados pelo SIC-Notícias (alguns já autênticas peças de mobiliário dos estúdios televisivos, casos de Nuno Rogeiro, Luis Delgado, o professor de estatística que explica as sondagens, and so on...) só nos próximos dias se saberá o resultado deste escrutínio.

Mas, estava eu a ver alguns dos discursos feitos pelos dois principais candidatos durante a campanha, quando constatei algo que é muito claramente comum entre eles. Aliás, não só entre eles, mas igualmente entre os seus membros de partido, os seus apoiantes, em todos os que manifestam publicamente a sua opinião. Todos falam de Deus, vão à Missa e convocam a protecção Divina para a América. Se Bush é protestante, um new-born christian quase a roçar o fundamentalista, Kerry é católico e faz questão de trazer a religião para a arena política por dá cá aquela palha (expressão particularmente apropriada para um Democrata, cujo símbolo é um burro. Para um Republicano será "por dá cá aquele amendoim"). Dá a palha e também dá votos, já se percebeu.
E se isto na América não é novidade, já as referências religiosas explicitadas no discurso político dos líderes Europeus são menos óbvias. Foi a tentativa de encabeçar o projecto de Constituição Europeia com a alusão ao Cristianismo, havia à dias atrás um candidato a comissário que debitava o discurso oficioso do Vaticano mas, ao que parece, os deputados do Parlamento Europeu decidiram-se por boicotar o beato Sr.Rocco Butiglione. Há por aí uns tipos de turbante que apelam ao martírio e ao terrorismo, tudo religiosamente enquadrado e legitimado, como é evidante. Outros preparam o terreno, com muro e tudo, para a chegada do Messias. A China vê numa seita que advoga a meditação como uma das suas maiores ameaças.

A Espiritualidade, o Divino ou o Religioso, como lhe queiramos chamar, parece ganhar de novo terreno no discurso político. E assim, lá vamos nós caminhando por entre períodos de idealismo/espiritualismo e por fases de materialismo/realismo.
Nos tempos que correm, o melhor será prepararmo-nos para os primeiros-ministros soleil.