29.10.04

Anos 70



É sempre um momento emocionante e surreal quando nos revemos em fotografias, quando redescobrimos aquele eu e aqueles que nos são próximos, nessas fotografias que nos parecem longe no tempo, distantes de nós, perfeitamente autónomas da nossa vontade, na sua beleza e verdade próprias - eu estive lá? eu era assim? é possível ser-se tão feliz? e aquele penteado!
São tão fantásticas estas imagens antigas em que nos revemos e pelas quais tantas vezes nos deixamos surpreender.
Aqui estou eu com o meu irmão, nesses incríveis anos 70 pós-revolução, cabelos à Pink Floyd, de boca de sino e com umas sweats muito cool. Mas acima de tudo, éramos muito pequeninos.
Tenho muito pouca memórias desses tempos, os 70's para mim eram a bicha do leite (distribuido numa daquelas clássicas carrinha Citröen), o rock sinfónico confundia-se com os autocarros de porta de abertura manual (clanck, 'tá mal fechada), o psicadelismo era chegar à praia de manhãzinha com os meu pais e as gaivotas ainda a dormir, e a Revolução era crescer.

Nota: foto tirada numa espectacular máquina AGFA, de rolo de cartucho, em que o flash era um cubinho rotativo (parecia um cubo de gelo) que se gastava com os disparos.

1 Comments:

At 31 de outubro de 2004 às 17:11, Anonymous Anónimo said...

Fiz uma fotoviagem com este post. Jamais esquecerei da bicha para comprar o leite na mercearia do Sr. António, bem perto do rio da Porcalhota (Amadora). Nos dias em que desejava comer um arroz doce feito pela minha mãe, o Sr. António anunciava num tom mais alto para a sua clientela "Tenham paciência, mas hoje só posso dispensar um litro de leite por cliente". E os pacotes de leite alinhados dentro das caixas de plástico cinzentas a rirem-se de nós.
Os meus pequenos luxos alimentares dessa época eram oferecidos por um casal de vizinhos que residiam no prédio em frente. Ananás, cachos de bananas, leite, açúcar mascavado, manteiga partida aos pedaços embrulhada em papel vegetal vinda dos Açores, caramelos e uns deliciosos rebuçados de ananás que trago ainda o seu sabor na memória, chegavam através do nosso vizinho embarcadiço. Sempre com um sorriso nos lábios e histórias de mar por contar, preenchia agradavelmente os nossos serões na década de 70. Não é por acaso que todos os fins de semana, pedia sempre ao meu pai para levar-me até ao Terreiro do Paço e assim contemplar todos os barcos que passavam.
A fotoviagem continua e o álbum de imagem-memórias nunca há-de esgotar-se.

Regina
(quem não se lembra das sombrinhas de chocolate dessa época?)

 

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