3.11.04

O Quartinho Escuro



Demorou mas compensou. Já tinha saudades de um bom artigo à EPC, daqueles que nos obrigam a pensar, repensar e a utilizar a nossa rede pessoal de conhecimentos para espalhar a mensagems, sentir a reacção dos amigos e perceber que não estamos sós na perplexidade.
Mas ele chegou, e de que maneira. Eis um parágrafo retirado do artigo de hoje de Eduardo Prado Coelho no Público. A ler!


"Os objectos traçam paisagens, são índices de desenvolvimento, sintomas de um equilíbrio económico, marcas do estado ecológico. Às vezes penso, ao entrar na casa de banho de uma cidade estrangeira, como o índice de degradação das suas paredes e objectos é um gráfico da linha de subdesenvolvimento do país. Numas está tudo estragado, as torneiras não funcionam, os puxadores desfazem-se nas mãos, a fechadura deixou de funcionar e o seu vazio é compensado por um papel enrolado para evitar olhares viciosos (...), as inscrições na porta enunciam o estado da miséria sexual, as frases de reflexão mostram como a ociosidade é a mãe de todos os vícios, incluindo os metafísicos. Nuns casos temos interruptores banalíssimos. Mas noutros mais sofisticados existem aparelhos que funcionam com temporizadores e se apagam ao fim de dois ou três minutos. O que os desencadeia são os gestos. Se temos a infelicidade de entrar quando ainda está acesa a luz trémula do anterior utilizador, acontece que ao cabo de 50 segundos essa luz extingue-se. Temos então de agitar os braços para cima e para baixo como um estivéssemos na grande oração diante da divindade de Allah."