9.11.04

América e outras notas breves de fim-de-semana


Meret Oppenheim "Red Head, Blue Body" (1936 )


Por manifesta falta de tempo, o vosso "poster" tem estado temporariamente ausente.
Estando de regresso à blogosfera (não confundir esta deixa com a vaga de publicidade da Pfizer ao Viagra que invadiu a rua recentemente) deixo aqui registadas algumas observações e pensamentos ociosos, típicos produtos de fim-de-semana, ligeiros e curtinhos para leitura rápida.

AMÉRICA - Pois é, o Bush ganhou. Apetece dizer de raiva que a América perdeu, ou que isto é apenas um mau filme do Bush & Estica. Claro que podemos e devemos ser mais optimistas; olhando para a pintura "Cabeça Vermelha, Corpo Azul" (de Meret Oppenheim, exposta no MoMA - NY) vejo, e creio que todos podemos ver, a metáfora dos E.U.A. actuais: um corpo azul (cor Democrata) que geograficamente corresponde às regiões mais urbanizadas e que sustenta materialmente a América e uma cabeça vermelha (nos "States" vermelho é cor de direita, Republicana) que impõe a linha ideológica. Partes do mesmo corpo, que não vivem uma sem a outra... mas para onde nos quer levar esta cabeça?

LOBO - "Eu escrevo livros para corrigir os anteriores" afirmou o grande corrector que é António Lobo Antunes. De notar que há novo livro no prelo "Eu hei-de amar uma pedra". É quase escusado dizer que quando Lobo Antunes o corrigir, passará a chamar-se "Eu hei-de apanhar uma pedra"!

ACESSOS - Fui ver no passado Domingo esse grande clássico do futebol nacional Benfica-V. Setúbal, jogo onde se decidia a liderança da SuperLiga, facto que pela invulgaridade tornava este desafio num acontecimento de destaque. Assim, runião familiar e todos à bola!
Fiquei feliz, 4-0 a favor do Glorioso é saboroso, mesmo que o futebol da equipa Benfiquista esteja longe de ser brilhante.
Agora a grande questão: como foi possível organizar uma final de um Europeu de Futebol num local com acessos daqueles? O estádio em si evacua-se em poucos minutos, mas é só o estádio. Se sairem para os lados do Colombo, os caríssimos espectadores são direccionados para uma escada onde se dá o primeiro congestionamento. Vencido este "olha onde pisa, passo, passinho, pára, esborracha, anda mais um pouquinho" parece que entramos em velocidade de cruzeiro mas, eis que, estrategicamente posicionados no meio do túnel que cruza a 2ª circular por baixo, dois vendedores de castanhas causam o mesmo efeito que o despiste de um camião TIR a ocupar 5 faixas na ponte 25 de Abril em hora de ponta. Ultrapassado o ambinte londrino criado pelo smog das castanhas a assar, entramos num parque de estacionamento todo ele desenhado para... carros. Pareceu útil a alguém que uma das principais saidas pedonais do novo Estádio da Luz, dito do melhorzinho que há na Europa, dê directamente para um parque auto. Mas o "melhor da festa" é sair daqui. Para quem segue com destino a Colombo, o que será qualquer coisa com 80% de quem opta por este caminho, tem de aguardar vez para atravessar a estrada bem aconchegado na massa humana, nada organizada, que se comprime no passeio de metro e meio de largura. Do outro lado da estrada provavelmente nem o meio metro deve ter, mas por sorte há um semáforo entre as grades que limitam este passeio (será mesmo um?) entre a estrada e um fosso. Este semáforo é muito util pois, em caso de desiquilíbrio quando há 3.708 pessoas a tentar passar por aqui, é óptimo para se lhe lançar a mão - eu que o diga.
A saida do Estádio da Luz pelo lado do Alto dos Moinhos, com uma ponte do tipo veneziano e muita rotunda e entulho, não promete ser melhor. Não experimentei, fica para a próxima.

De notar que só estavam no estádio 36.000 espectadores, pouco mais de metade da lotação declarada. E com claques ordeiras, sem protagonizarem incidentes. Em suma, um estádio vocacionado para acessos...de desespero.